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domingo, 23 de outubro de 2011

Lady In Satin | Billie Holiday (1958)



Meu primeiro contato com o jazz, quando eu tinha uns 12 anos, foi através da Billie Holiday. Meu pai comprou - totalmente por acaso, acredito - um CD com uma coletânea de sucessos dela. Digamos que foi amor à primeira ouvida. Muitos anos passaram, outras divas do jazz entraram na minha vida, mas pra mim, a Lady Day continua sendo a melhor delas.

Billie Holiday nunca teve uma educação formal de música. Aprendeu ouvindo Bessie Smith e Louis Armstrong. Cantou em diversas big bands, entre elas as de Count Basie e Duke Ellington, e foi uma das primeiras negras a cantar com uma banda de brancos, em plena época da segregação racial nos Estados Unidos.

Apesar do sucesso, lá pelos anos 40, Billie se deixou levar pelo álcool e pelas drogas, que somados aos momentos de depressão e aos relacionamentos com homens de comportamento abusivo, causaram males a sua saúde e, consequentemente, a sua voz. 

Em suas últimas gravações, os efeitos da saúde debilitada podem ser notados na sua voz, que perdia sua exuberância e se tornava mais grosseira. Lady In Satin foi seu último álbum lançado em vida, e é composto apenas por músicas que ela não havia gravado antes. Enquanto alguns o consideram "uma visão voyeurística de uma mulher derrotada", outros acreditam que é um dos melhores discos de toda sua carreira.

O livro diz que:
... ao desnudar standards como "You Don't Know What Love Is" e "Glad To Be Unhappy" até sobrar apenas a emoção, Holiday canaliza seu orgulho junkie para os blues mais sinceros já gravados. São canções-guia, diferentes de tudo que o jazz já havia cantado antes: o amor é pintado como loucura, desespero, resignação, com uma brutal honestidade. Não é surpresa que este seja o disco favorito de Holiday e tenha se tornado o testamento e o desejo final de um mito.


Billie Holiday em 1958


Concluindo
Como eu disse lá no começo do post, já faz algum tempo que conheço a Billie. Mas Lady In Satin é algo totalmente novo pra mim (não é porque eu ouvi a primeira vez aos 12 anos que já ouvi tudo, certo?). Não é a Lady Day alegre de "What A Litlle Moonlight Can Do", nem a Billie doce de "God Bless The Child", entre tantas outras canções que soam totalmente diferentes das 11 faixas deste álbum.

Lady In Satin é um disco que, pra mim, soa totalmente sincero. Cada canção é uma confissão, um desabafo, um lamento de quem teve uma vida sofrida (abuso aos 10 anos, prisão, prostituição... fora as drogas, a bebida e os homens que não prestavam, como disse antes). É doído. É triste, triste demais. Curiosamente, é tudo isso que faz dele uma obra-prima. Sua voz - já mais rouca que o normal, grosseira - e toda a dor e sofrimento presentes nela fazem com que o disco tenha uma das interpretações mais viscerais e honestas que já ouvi. É lindo, tristemente lindo.


Faltam 491 dias.
Faltam 985 discos.

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